30 de junho de 2014

O dia a dia de uma Escola Ribeirinha.


O dia a dia de uma Escola Ribeirinha é determinada pelo tempo e época do ano.
Geralmente o início do ano escolar começa em meados de Janeiro e termina em meados de outubro, sem período de férias no meio do ano.
O motivo é muito justo, a cheia e a seca do rio.
Durante os primeiros meses do ano, o rio está bem cheio e não dificulta o transporte. As escolas que ficam mais centradas na comunidade, também não sofrem alagamentos e assim o dia a dia escolar flui muito bem.


Mas na época da seca do rio, que começa a partir de agosto e tem a sua máxima em meados de outubro, as dificuldades no transporte começam a atrapalhar as aulas.
Então para que não haja problemas com o calendário escolar, nessas comunidades, o ano letivo tem essas diferenças.


Os professores vem todos de Manaus, a capital do Amazonas.
Todos os dias enfrentam o Rio Negro, que é o Rio mais extenso de água negra do mundo, e o segundo com maior quantidade de volume de água, perdendo somente para o Rio Amazonas, o qual ele ajuda a formar.
Saem muito cedo de casa, enfrentando um trânsito gigantesco da grande capital, que possui quase 2 milhões de habitantes.
Eles se encontram na Marina Davi, um porto que é usado pelos ribeirinhos daquela região.
Enquanto sobem o rio, passam pelas casas que tem alunos que frequentam sua escola e, assim, juntos chegam na escola por volta das 7:00 hrs.


Ao chegar na escola, os funcionários da escola já estão presentes, pois moram na comunidade.
Então o café da manhã é servido, para professores e alunos.
Depois do café, as turmas se organizam e vão para suas salas com seus professores.
 
No período matutino eles tem três ou quatro turmas:
  • A primeira turma é da educação infantil (pré-escolar I e II)  e tem entre dezesseis alunos;
  • A segunda turma é o  primeiro ano e o segundo ano também e tem entre dezesseis a vinte alunos;
  • A terceira turma é dos itinerantes - sexto e sétimo ano, que juntos formam uma turma de vinte a vinte e cinco alunos.
  • A quarta turma é do EJA  e quinto ano - contando com dez a quinze alunos.
No período vespertino, as demais turmas são:
  • A primeira turma é do terceiro e quarto ano, com mais ou menos vinte alunos;
  • A segunda turma é o oitavo e o nono ano.
Mas tudo isso depende da quantidade de alunos, professores e salas disponíveis em cada comunidade.


Os alunos itinerantes englobam as turmas do sexto ao nono ano, que são chamados assim, por terem aulas em módulos. A cada trimestre eles tem uma quantidade "x" de disciplinas e também de professores, que geralmente são de três a quatro. Essa maneira de ensino às vezes dificulta o aprendizado dos alunos, pois são muito conteúdos para pouco tempo, sendo que acontece muitos imprevistos que atrapalham o bom andamento das aulas.


Durante as aulas eles tem o período de intervalo com merenda escolar e no término o almoço, que é dado para todos os alunos, tanto do horário matutino como vespertino.
Mas isso só chegou com o Programa Mais Educação - um Programa do Governo Federal que pretende acabar com a evasão escolar, melhorar a qualidade de ensino e construir uma escola de tempo integral.
Após o almoço, os alunos do matutino tomam banho e vão para as atividades do Programa Mais Educação, e os do horário vespertino participam dessas atividades do programa pela manhã.
As escolas que tem este Programa, passaram ou estão passando por reformas para terem estruturas adequadas para realizarem o projeto.

Assim, vemos as políticas públicas da Educação alcançando os povos Ribeirinhos.


Por: Flávia Fernandes Santarém.













23 de junho de 2014

O que os Especialistas dizem sobre os Ribeirinhos e a Educação.

"Uma cultura que, frequentemente, não é valorizada e é até mesmo pouco estudada. O currículo das escolas ribeirinhas necessita contemplar elementos de compreensão dessa realidade por elas vividas. Trata-se de uma escola que tem suas diferenças, suas características, suas marcas, e que precisa ser respeitada enquanto escola que abriga um outro modo de viver as relações pedagógicas e cujo currículo precisa voltar-se para suas necessidades cotidianas (VICTÓRIA, 2008, p. 77)."




"Os/as educandos/as da escola são crianças e jovens que têm suas vidas inseridas num modo peculiar de viver, trabalhar e estudar. Este modo de vida é marcado por uma cultura diferenciada, caracterizada principalmente pelo contato com as águas, de onde retiram o sustento para eles e suas famílias. Muitas destas crianças já começam a lidar com a pesca e a agricultura desde muito cedo, ajudando seus pais e com entusiasmo, participam do sustento diário de suas famílias. São ribeirinhos: denominação que é geralmente usada para caracterizar os “pequenos produtores que têm nas terras de várzea o seu espaço social organizado [...]. Diferencia-se do pequeno produtor da terra firme, não só por ocupar um espaço físico diferente, mas também por sua relação com a terra” (CHAVES, 1990, p. 25) e com a água."



"Barreira (2007) afirma que este caboclo/ribeirinho, camponês da Amazônia, possui uma singularidade construída e reconstruída neste amplo contexto que envolve terra, floresta e água. [...] esta singularidade oferece uma gama complexa e rica de fatos, apresentando uma realidade prenhe de significados sociais. [...] Principal ancestral os “índios das águas” [...] possuidor de um capital social que torna parte de um agrupamento humano bem-sucedido nos seus processos adaptativos. A adaptação é constituída na compreensão correta da relação entre o tempo de abundancia e o da escassez principalmente, na articulação do meio ambiente com o “ciclo das águas” (p. 12).Estes sujeitos retiram seus sustentos das águas, da floresta, caracterizando assim uma auto-sustentação ligada a um equilíbrio e respeito ao tempo da própria natureza. Muitas vezes este tempo não é entendido pelo homem que não vive neste contexto – que chama os ribeirinhos de preguiçosos, atrasados, descansados. Ocorre o contrário: estes homens sabem e respeitam o tempo das águas, o tempo da desova, o tempo de descanso da terra; conhecem o enriquecimento do solo nas terras de várzea após as enchentes. “A relação homem-natureza é tecida em uma perfeita simbiose, em um ‘delicado equilíbrio entre a vida humana e a biodiversidade’” (BARREIRA, 2007, p. 11)."




"A escola que nasce e se desenvolve nesses territórios possui extrema importância para a reprodução social das populações ribeirinhas que ocupam as margens dos diversos rios de águas da bacia do Amazonas (FABRÉ, et al, 2007). Apesar da peculiaridade e riqueza dessas localidades, marcada pela subida e descida das águas, a política de educação escolar tem sido predominantemente pautada no modelo urbanocêntrico e reproduzindo fortemente a desvalorização do modo de vida ribeirinho, reforçando o êxodo rural. Essa desvalorização, marcada pela pouca atuação do Estado, há um considerável índice de jovens e adultos não alfabetizados de pessoas com tempo de escolaridade inferior a quatro anos."



"Este homem vive e pensa o tempo presente e futuro com esperança de terra boa para plantio, de águas não muito altas em tempos de enchente. E vive nesta “terra/água” com resistência, garantindo a continuidade das suas futuras gerações."

Estas reflexões são muito importantes para podermos entender o povo Ribeirinho, suas necessidades, sua maneira de viver; e assim, ajuda-los na sua busca de novos conhecimentos e aprendizados, respeitando seus saberes e sua simplicidade.

Por: Flávia Fernandes Santarém.

Fontes:

  • Jarliane da Silva Ferreira :ESCOLA RURAL/RIBEIRINHA, CURRÍCULO E INTERCULTURALIDADE: UM PROJETO POSSÍVEL? http://www.gepec.ufscar.br/textos-1/seminarios/seminario-2013/4.-educacao-do-campo-escola-c... 

Reconhecimento das Populações Tradicionais: Ribeirinhos

"As populações tradicionais, entre elas os ribeirinhos, foram reconhecidas pelo Decreto Presidencial nº 6.040, assinado em 7 de fevereiro de 2007, nele o Governo Federal reconhece, pela primeira vez na história, a existência formal de todas as chamadas populações muito tradicionais.
Ao longo dos seis artigos do decreto, que institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), o Governo amplia o reconhecimento que havia sido feito parcialmente, na Constituição de 1988, aos indígenas e aos quilombolas.
Assim, todas as políticas públicas decorrentes da PNPCT beneficiarão oficialmente o conjunto das populações tradicionais, incluindo ainda faxinalenses (que plantam mate e criam porcos), comunidade de "fundo de pasto", geraizeiros (habitantes do Sertão), pantaneiros, caiçaras (pescadores do mar), ribeirinhos, seringueiros, castanheiros, quebradeiras de coco de babaçu e ciganos, entre outros.
Segundo Joshua Project, os povos Ribeirinhos no Brasil somam umas 6.513.000 pessoas."






Fontes:
  • Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Povos_ribeirinhos
  • http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6040.htm


20 de junho de 2014

O Trabalho entre os Ribeirinhos em Santarém - PA.


"Os Ribeirinhos são remanescentes da era da borracha que vieram do nordeste em busca de trabalho. A borracha findou e estes ficaram na Amazônia, onde formaram famílias e comunidades.  Por morarem nas margens dos rios, são chamados de Ribeirinhos. Hoje estima-se ter mais de 35 mil comunidades na Amazônia.
Quanto as escolas ribeirinhas, hoje graças ao bom Deus e aos prefeitos a grande maioria está em ótimas condições. Boa estrutura, boas salas, salas de informática e merenda escolar. Na maioria das comunidades só existe  até a quarta série, então se deslocam até outras comunidades onde tem até a oitava. A prefeitura freta barcos que fazem o transporte.

A dificuldade é na época das cheias dos rios, pois muitas escolas ficam alagadas, impedindo assim as aulas. Mas ainda existem escolas precárias e muito quentes, obrigando os professores a colocarem as carteiras debaixo de árvores. 

Um dos nossos objetivos, quando começamos a implantação de uma nova igreja em comunidades ribeirinhas é alcançar os professores, que na maioria vem da cidade, alguns poucos da própria comunidade tem oportunidade de estudar fora, e voltarem para lecionar.
Os alcançando portas são abertas dentro da escola. Mas sempre temos a oportunidade de participar da escola, principalmente em feriados e datas comemorativas que levamos das igrejas de Santarém, jovens que levam, música, brincadeiras e ensinos bíblicos. Criança alcançada, famílias alcançadas.
Vou relatar um breve testemunho. Começando a implantação da igreja na comunidade São Miguel, uma menina de 5 anos ao término de um estudo, agarrou minhas pernas e disse: "Missionário quero aceitar Jesus". O pai dela se levantou na frente de todos os presentes, umas 120 pessoas e disse: "minha filha, você nem sabe o que é isto", ela respondeu: "sei sim papai. Quero aceitar Jesus para levar ele para casa, para ver se o senhor e a mamãe parar de brigar", enfim pai e mãe também aceitaram Jesus."



Escrito por Missionário "Luis Carlos Ferreira" - Missionário em Santarém - PA e região. 





19 de junho de 2014

Quem são os ribeirinhos?

Os ribeirinhos são pessoas simples e humildes que vivem às margens dos rios.
Existem muitos ribeirinhos espalhados pelo Brasil. 
Sua grande maioria encontra-se nas regiões da Amazônia.


Os ribeirinhos:


"São populações tradicionais que têm suas vidas inseridas num modo peculiar de viver,trabalhar e construir saberes. Este modo de vida é marcado por uma cultura diferenciada,caracterizada principalmente pelo contato com as águas, terras e floresta (FERREIRA, 2008)."


 "São homens e mulheres que decidem o que manter, criar e desenvolver em cada ecossistema, por meio de um conjunto de recursos, técnicas e ricas estratégia (AMÂNCIO,2000), eles são camponeses amazônicos possuidores de uma vasta experiência na utilização e conservação da biodiversidade e da ecologia dos ambientes onde vivem e trabalham (BARREIRA, 2007)."


"São uma população tradicional que residem nas proximidades dos rios e têm a pesca artesanal como principal atividade de sobrevivência Cultivam pequenos roçados para consumo próprio e também podem praticar atividades extrativistas." (Wikipédia)


Os ribeirinhos vivem da caça, da pesca e da agricultura.
Os peixes mais consumidos são: pacu, tucunaré, tambaqui, sardinha, piranha, entre outros.
Algumas vezes a pescaria é feita de tarrafa (essas redes que são jogadas pelo pescador). 
Outras vezes são feita de caniço (vara de pesca) na beira do rio; ou com arpão e à noite, "fisgando" os peixes com ele; ou com malhadeira - uma rede que fica presa entre duas varas num igarapé - a espera que entre um cardume de peixe e alguns fiquem presos.

Cebolinha verde

Dependendo da região em que se encontram,a produção agrícola é de pouca produtividade, pois a terra é arenosa e com muitas pragas; dificultando assim a produção de alimentos variados.

Coentro
Em sua maioria, os ribeirinhos tem pequenas hortas, suspensas do chão, feitas em barcos velhos ou caixas de madeira.
Com temperos como: chicória, cebolinha verde, coentro e pimentas de espécies variadas.

Buriti
As frutas da região e nativas são muitas vezes a única fonte de alimentação do dia de um ribeirinho. 
São elas: ingá, buriti, tucumã, açaí, cupuaçu, graviola, entre outras.
Com as frutas eles fazem doces, sorvetes, cremes, sucos, entre outras delícias típicas.

Açaí
A farinha de mandioca é a comida indispensável na mesa do ribeirinho, juntamente com peixe, feijão e arroz.
Até mesmo farinha com açaí muitos ribeirinhos gostam de comer. 


Suas casas geralmente são feitas de madeira sobre esteios suspensas do chão. Elas são construídas dessa maneira por causa das cheias dos rios, as quais muitas vezes são invadidas pelo mesmo.

São conhecidas também como "palafitas". 
Na época das enchentes, eles sobem o piso (assoalho) das casas.


Mas em algumas comunidades as casas estão sendo construídas de alvenaria, geralmente as que ficam mais afastadas do rio, ou constroem o primeiro piso de alvenaria e o segundo de madeira.


Para o transporte, o meio mais utilizado é o barco. Existem vários tipos: canoa pequena (usada com remo), canoas de madeira, alumínio ou fibra (usadas com motor rabeta ou de popa).
O rio é a estrada do ribeirinho.


Muitas vezes uma "estrada" perigosa, dependendo da época do ano, ou do horário do dia e também do tráfego, o rio se torna muito agitado, com "banzeiros" fortes e perigosos, que causam medo e acidentes.



A travessia do rio é sempre imprevisível, ora ele está calmo e "liso" como um espelho, ora ele está agitado e turbulento.
A maioria dos Ribeirinhos não possuem coletes salva-vidas e muitas vezes são crianças que pilotam os barcos.


O rio é tudo para o Ribeirinho, nele as mulheres lavam roupas em mesas de madeira feitas nas beiras do rio, ou em balsas pequenas (tipo jangadas) de madeira que ficam presa em paus fincados na areia.


Enquanto as mães lavam roupas no rio, as crianças aproveitam pra brincar e pra tomar banho.
Nem todos possuem banheiros em casa pra tomar banho, a grande maioria toma banho no rio mesmo.
E isso acaba se tornando diversão para as crianças.

Apesar de passarem por muitas dificuldades, enfrentarem muitos perigos e terem pouco recursos e conforto; o povo Ribeirinho é alegre, hospitaleiro, gentil, batalhador e simples.


Por: Flávia  Moro Fernandes Santarém.

Citações - Fonte:
  1.  Jarliane da Silva Ferreira: ESCOLA RURAL/RIBEIRINHA, CURRÍCULO E INTERCULTURALIDADE: UM PROJETO POSSÍVEL?  http://www.gepec.ufscar.br/textos-1/seminarios/seminario-2013/4.-educacao-do-campo-escola-c...




Os primeiros professores.

Na comunidade onde vivi e praticamente em todo aquele braço do Rio Negro - o Rio Tarumãzinho; os Ribeirinhos tiveram seu primeiro contato com a "escola" ou com a "educação formal" através de Missionários Evangélicos Estrangeiros.
Ao subirem rio acima, pregando o Evangelho, em seu barco-casa, os missionários ensinavam os Ribeirinhos a ler e a escrever. Os mais antigos ou os primeiros moradores foram alfabetizados pelos missionários.

Aulas de Reforço - realizadas por Missionários.


Durante muito tempo foram os missionários evangélicos os professores daquela região. 
Há alguns anos, o governo municipal fundou as escolas em cada comunidade, mas os missionários continuaram dando aulas de reforço para as crianças, adolescentes e dando aulas para os adultos que ainda não tinham sido alfabetizados.

Missionária voltando das aulas

Atualmente essa tarefa tem sido somente das escolas.
Os Ribeirinhos, porém, não esquecem quem foram os seus primeiros professores.


Por: Flávia Moro Fernandes Santarém.

Estruturas das escolas Ribeirinhas.

Durante muitos anos as escolas ribeirinhas eram nas casas de palha (tipo quiosque), mas hoje as escolas tem estruturas parecidas com as da zona urbana. 
Com salas de aula, banheiros, cozinha, sala do diretor, depósitos e até ginásios (dependendo da comunidade).
As escolas dos Ribeirinhos estão ganhando uma estrutura mais completa, com mais materiais pedagógicos e profissionais com maior capacitação para ensina-los.

Sala de mídia.

Na escola onde trabalhei, no ano passado inauguramos uma sala de mídia, com computadores, data show, ventiladores e acesso à internet (mesmo que limitado).
Atualmente ela está ganhando uma reforma nas salas, cozinha e banheiros.
O ideal era que essas escolas da região do Amazonas, tivessem uma ventilação melhor, com ar condicionado, mas a energia elétrica ainda tem sido um problema.
A energia elétrica é um privilégio que chegou nessas comunidades em 2008. Facilitando a vida escolar e da comunidade. 


Sala de aula dos alunos de 6º ao 9º ano.

A energia elétrica ainda é precária  por atravessar rios e florestas. Quando tem temporais, geralmente, a energia acaba faltando e dificultando o bom funcionamento da escola; pois sem energia não tem nem condições de puxar a água do poço, e sem água não dá pra fazer merenda ou utilizar os banheiros.
Apesar de estarem próximo do rio, a água utilizada é de poço, e tem todo um tratamento para evitar doenças.
Com o passar dos anos, o governo tem investido e tem olhado para as escolas Ribeirinhas com mais atenção.
Assim, a Educação Brasileira avança com mais qualidade e produtividade.


Por: Flávia Moro Fernandes Santarém.






16 de junho de 2014

Transporte na Educação dos Ribeirinhos.


Uma das Faces da Educação no Brasil é entre os "Povos Ribeirinhos" no Amazonas.
Uma educação onde o transporte é bem diferente do que estamos acostumados.
Hoje, depois de muitos anos de dificuldades, são barcos  grandes, seguros e rápidos que levam todos os dias as crianças e adolescentes para a escola mais próxima de sua casa.
Barcos com proteção do sol, das chuvas e com coletes salva-vidas para todos os alunos. 









Durante muitos anos o transporte era a maior dificuldade para ir à escola.
Muitos iam remando nas suas canoinhas de madeira, por horas - revezando entre colegas, sem nenhuma proteção do sol ou da chuva. 
E quando o rio seca, os alunos tem que andar pelo meio da floresta ou pelas beiras, onde o rio antes estava, enfrentando lama, bichos peçonhentos e o sol escaldante.





Nesta comunidade onde vivi, durante muitos meses não tivemos dificuldades de transporte.
Mas se um dia eles estragam; a ida à escola se torna difícil outra vez.
Quando uma peça do motor estragou, ficamos meses indo à escola com um barco mais precário. Um barco de alumínio, com motor "rabeta" e sem cobertura.
Certo dia, ao levarmos as crianças pra casa, o tempo estava se formando pra chuva, e o rio ficou bem agitado, com ¨banzeiros" e ventos muito fortes.
Durante a viagem o medo tomou conta de todos os alunos, da professora (eu) e do condutor.
Ainda não tinha enfrentado o rio agitado num barco pequeno desse. 



No barco grande em mais ou menos quinze minutos faríamos esse trajeto, mas com o barco de alumínio com motor "rabeta" fizemos em uma hora ou mais, pois os "banzeiros" do rio estavam muito agitados e faziam com que atrasasse a viagem.

E, assim, enfrentamos a tempestade.
Com a proteção de Deus, todos chegaram "são e salvos" em suas casas, mas com a certeza que com esse transporte não enfrentaríamos o rio novamente.




Depois daquele dia, o diretor da escola decidiu esperar o concerto do barco, pois não queria que as crianças passassem por esse perigo.
Muitos podem pensar: "Mas eles não tem seu próprio transporte, seu próprio barco? Por que não o usam?"
Sim, muitos tem seu próprio barco, mas na maioria das vezes não tem o combustível. 
Então o jeito seria ir remando.



Hoje em dia, enfrentar o rio a remo é muito mais complicado e perigoso. 
As pessoas já perderam o hábito, os pais geralmente trabalham na roça ou pescando e tem problemas de saúde.
Além desses fatores, o tráfego no rio aumentou, trazendo muitos barcos maiores e potentes que se tornam um perigo para pequenas embarcações.


Por: Flávia Moro Fernandes Santarém.







Dicionário:


Motor Rabeta: Tipo de barcos com motor e hélice traseira, não muito funda, usado em rios de pouca profundidade. Motor à gasolina ou à óleo diesel, com uma haste comprida e hélice na ponta.


Banzeiros: Ondas formadas pelo vento ou por outras embarcações.